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quarta-feira, 20 de março de 2013

Estrutura das Aulas: aquecimento, alongamento e relaxamento



Digamos que estes seriam elementos acessórios, mas de muitíssima importância. Neste post utilizarei a primeira pessoa, pois é a forma como eu opto por trabalhar. Entendo que não seja de igual forma com todos os profissionais de Dança do Ventre.
O aquecimento acontece no momento inicial da aula. É quando preparamos nossa musculatura e lubrificamos nossas articulações para que possamos praticar nossa atividade física sem causar lesões. Em muitas aulas, após esse momento de aquecimento, fazemos ainda alguns exercícios para soltar nosso quadril e fortalecer grupos musculares importantes para uma boa execução da dança e para a preservação de regiões como a coluna.
O alongamento, realizado ao final das aulas, permite que nossa musculatura seja mais funcional. Uma musculatura rígida, hipertrofiada e sem flexibilidade permite somente uma gama muito pequena de movimentos. Nosso corpo precisa ser forte e flexível. E quando começamos a dançar precisamos desenvolver novos repertórios. Se estivermos bem alongadas será mais fácil executar os movimentos ao mesmo tempo em que ficarão mais limpos. Além disso, é possível dizer que uma musculatura bem alongada apresenta uma resposta mais rápida a estímulos, ou seja, quando necessito me mover, consigo fazer rapidamente se estou bem alongada. Podemos tomar aqui por exemplo a necessidade de fuga: se estou em situação de ameaça e preciso correr, atingirei um velocidade adequada mais rapidamente se a musculatura de minhas pernas tiver boa flexibilidade. É importante sempre cuidarmos do alongamento de nosso corpo, visando também o futuro. Pessoas sedentárias, na grande maioria dos casos, chegam a terceira idade com grande dificuldade de locomoção, dificuldade para sentar e levantar... O corpo vai perdendo sua funcionalidade, vai adoecendo. É preciso se movimentar sempre, para manter a qualidade de vida. Podemos dizer que o alongamento proporciona os seguintes benefícios: auxilia em uma respiração adequada aumentando a oxigenação do sangue, diminui as tensões, reduz o risco de lesões,
facilita a execução de movimentos no dia a dia, diminui dores musculares, auxilia na reabilitação de problemas estruturais, melhora o funcionamento de todos os órgãos vitais, aumenta a capacidade de concentração, ativa a circulação sanguínea, tranquiliza e relaxa, auxilia no bom posicionamento da coluna vertebral, combate o stress e melhora a qualidade de vida.
E o relaxamento é o momento em que permito às alunas entrarem em pleno contato consigo mesmas. Esse espaço também pode ser considerado como fundamental para que a autoconscientização vá se desenvolvendo, levando cada uma a conseguir executar uma dança mais expressiva, de acordo com o abordado no post anterior sobre sentimento e expressão. Em cada aula aspectos diferentes são trabalhados, como o desenvolvimento de uma consciência corporal, o relaxamento progressivo dos grupos musculares, a respiração, a produção de bem estar psíquico através da estimulação de processos criativos, utilização de técnicas de toque e massagem... Diversas formas de produzir relaxamento do corpo e da mente são utilizadas, para que as alunas possam se desligar um pouco da agitação da vida cotidiana, pausando e se voltando para si, aliviando sintomas como a ansiedade. Concluímos então a aula de tal forma que cada uma possa voltar para sua casa completamente tranquila, relaxada e consciente de si. 

Ju Najlah


terça-feira, 12 de março de 2013

Estrutura das aulas: Sentimento e expressão



Eis aqui um aspecto difícil de ser trabalhado. Sentimento e expressão dependem direitamente do autoconhecimento, de estabelecer contato consigo mesma e se permitir afetar pelas emoções da música e do momento da sua dança, perceber que tipos de energia você está transmitindo para seu público e o que recebe a partir delas.
A expressão não deve ser imposta. Ouvimos coisas do tipo, em tal momento da música devo sorrir, parecer feliz, no outro preciso fazer cara de sofrimento. E vemos uma exposição de “carões” sem sentido. A  expressão precisa ser sincera, ter relação com seus sentimentos íntimos ao ouvir e interpretar uma música. É de fato se expressar por meio de uma linguagem gestual.
Se o primeiro passo é conhecer a si mesma, a professora não pode fazer muito além de dar dicas, de mostrar alguns caminhos possíveis. Cabe a cada uma seguir os que considerar mais interessantes e apropriados a sua história de vida.
As diversas psicoterapias são um caminho. Yoga e meditação também proporcionam esse desenvolvimento. Mas principalmente poder olhar para si mesma, que é afinal o objetivo de todas essas práticas. Esse olhar precisa ser fraterno, com amor e respeito. É necessário entender que temos qualidades, defeitos, temos padrões de comportamento que repetimos, muitas vezes de forma inconsciente. Olhar para nós mesmas sem se deixar envolver, como espectadoras equânimes de nós mesmas. Observe os pontos que podem ser trabalhados, que podem ser melhorados, como cada coisa lhe afeta, o que lhe faz agir de determinada forma, o que causa bloqueios e o que causa prazer... Procure entender a si mesma, entender o que lhe faz agir, pensar ou sentir de determinada forma em determinadas situações. Perceba o que na sua vida faz bem e o que faz mal a você mesma e aos que estão ao seu redor. Faça este exercício diariamente e deixe passar tudo o que faz mal. Não se apegue a nada.
A partir do momento em que você pode, ao menos minimante, conhecer a si mesma e identificar o que a levar a seguir determinados padrões de comportamento, você pode melhorar a sua qualidade de vida e você pode, de fato, permitir aflorar emoções verdadeiras em sua dança.
Com este autoconhecimento aprendemos a perceber o nosso ego como algo necessário apenas para nos identificar enquanto seres “individuais”. Se nosso ego toma grandes proporções começamos a nos sentir ameaçadas em diversas situações, o que nos leva a uma necessidade de competição, como se ao me apresentar como melhor do que alguém eu reforçasse características que gostaria em mim mas que não são minhas. Acabo, portanto, tornando-me insegura, já que preciso demonstrar ser algo que não sou. Deixamos, então, de ter contato com nós mesmas para apenas querer mostrar ser alguma coisa, apresentando ao mundo diversas máscaras que cotidianamente vestimos. Para dançar é preciso se despir dessas máscaras, se entregar de corpo e alma! A partir da busca pelo autoconhecimento passamos a ter contato com nosso Eu superior, nossa essência divina, expandimos nossa alma, enxergando o mundo de forma mais feminina, sentindo amor verdadeiro e fraterno por tudo o que nos rodeia, aprendemos a admirar e enxergar tudo o que há de belo no mundo, restabelecemos nosso equilíbrio.
Quando esse trabalho é feito,  por cada uma, os trabalhos de expressão por meio da dança são facilitados. Então, quando chegando ao fim da aula, peço por exemplo, para que fechem os olhos e sintam a música, a respirem e a percebam penetrando cada célula, deixando seu corpo se transformar na música, estou somente facilitando essa entrega. Você precisa se conhecer para poder perceber como a música lhe afeta. Precisa da técnica para ter possibilidades de expressão. E precisa se entregar, sentir a música bater em seu peito! A professora aqui dá dicas, abre um espaço para que a expressão possa surgir. Mas o trabalho é individual e um tanto quanto íntimo, é desenvolvido aos poucos, de acordo com o tempo de cada uma. As inseguranças precisam ser deixadas de lado. Elas fazem parte de uma máscara que precisa mostrar ao mundo alguma coisa que não está em total sintonia com você, é parte do seu ego. Lembre-se sempre de que você não precisa provar nada a ninguém. A vida vale a pena somente se nos amarmos e nos respeitarmos, descobrindo a felicidade verdadeira de uma vida em harmonia.
Se entendermos a dança como forma de expressão, diria que este é o ponto mais importante para o seu desenvolvimento. Somente após essa entrega você compreenderá o que é dançar.

Ju Najlah


Imagens de Evgen Bavcar
Sobre o fotógrafo: "Evgen Bavcar é um esloveno cego desde os 12 anos devido a dois acidentes. Suas imagens, impressionantemente belas, em grande parte utilizam o contraste entre luz e escuridão. O artista também é doutor em estética pela Universidade Sorbonne.
Suas imagens, compostas por composições pretas e brancas, refletem como a sociedade está vivendo nos dias atuais, onde é mais preocupada com a imagem que passa do que realmente é, deixando de lado a humanização e partindo para o produto, o “ter” mais vale do que o “ser”.

Assim, incríveis são os resultados deste artista que tem tudo para não fazer nada e se acomodar, porém, explora através das lentes trabalhos que muitas pessoas que possuem inúmeras possibilidades e recursos não chegariam nem perto."

http://blogdapp.blogspot.com.br/2010/11/o-fotografo-cego-evgen-bavcar.html



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terça-feira, 5 de março de 2013

Estrutura das aulas: Siga a bolinha



Este talvez seja o momento mais aguardado pela maioria das alunas. Momento em que, durante a aula, sentem-se de fato dançando. Este é o momento da animação!
Aqui a professora coloca na música alguns passos, já trabalhados tecnicamente, e as alunas a seguem. Neste caso, a professora é a bolinha!
Vejam bem, para que este momento seja possível, para que cada aluna esteja apta a seguir a bolinha, a técnica precisa ter sido trabalhada e a professora precisa estar atenta ao nível da turma. Neste momento da aula a dança não segue a música rigorosamente, porque as alunas precisam de certo tempo e desenvolvimento para poder seguir a professora. O ideal é que um passo seja repetido algumas vezes. Da primeira vez que for feito, as alunas o perderão, já que não terão tempo de executá-lo no tempo da música, mas nas repetições elas conseguirão fazer o movimento simultaneamente a professora e no tempo da música. Por esse motivo, aqui não é possível interpretarmos as nuances da música. Fazer um “siga a bolinha” em composições muito complexas, permite somente uma representação muito superficial da música.
Aqui, a gama de passos utilizados também é muito inferior daquela aprendida em sequências coreográficas. Podemos ficar uma aula inteira fazendo siga a bolinha. Será uma aula para pôr em prática os aprendizados de aulas anteriores, para conhecer músicas novas e aprender formas variadas, porém simples, de dançar. Mas para que esta aula possa acontecer, a bagagem anterior se faz necessária.
Este é o momento da descontração, de sentir-se dançando, mas dentro de todas as limitações que este momento da aula impõe.

Ju Najlah


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É preciso transformar a música em dança, num movimento de fora para dentro, mas principalmente, num movimento inverso, externalizar os sentimentos, transparecer a alma, transformar o corpo em música, em dança, em arte. A unidade se faz em todos os sentidos. O seu estilo de dança não será criado. Ele já existe. Basta você abrir espaço para que ele possa surgir. Dance com alma!

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